COMVIDA REALIZA 1º TRIBUNAL POPULAR PELAS ÁGUAS E PELO CLIMA
Presidido simbolicamente pela Ouvidora Externa da Defensoria Pública, Amanda Michalski, aconteceu no dia 21 de março de 2025, no auditório do Ministério Público em Guajará Mirim no Estado de Rondônia o 1º Tribunal Popular Pelas Águas e Pelo Clima – “Ecoar de Vozes em Defesa da Casa Comum rumo à COP30”. O ato de inauguração do Tribunal contou com a participação do Promotor Eider José Mendonça das Neves, seguida de manifestação cultural de um grupo de jovens OroWari da Aldeia Laje Velho e de Antorokay Mura da resex do rio Ouro Preto e membro do Coletivo Mura de Porto Velho.
A ação foi promovida pelo COMVIDA, Comitê de Defesa da Vida
Amazônica na Bacia do Rio Madeira e o Núcleo RO do Fórum Mudanças Climáticas e
Justiça Socioambiental- FMCJS, que reuniu diversas organizações, movimentos
sociais, pesquisadores, extrativistas, pescadores e indígenas.
O ato foi uma ação pelo planeta, em alusão ao dia Mundial da
Água, pedindo providências das autoridades no sentido de repensar as ações
desenvolvimentistas que vem atropelando nossa Casa Comum com grandes projetos
que violam os direitos humanos e da natureza, ou seja, o ambiente em que vivemos.
O articulador do COMVIDA Iremar Ferreira, juntamente com a jovem educomunicadora indígena Érica Kanoé Oromon, conduziram o Tribunal que contou com três mesas temáticas com participação de professores pesquisadores da UNIR (projetos de infraestrutura e peixes) e do Fórum Estadual de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos, seguidos de diversos depoimentos de lideranças do Brasil e da Bolívia, apontando governos e empresas como maiores responsáveis por contribuir para o agravamento das mudanças climáticas.
Sentença do Tribunal:
“Diante do exposto, é nítida a
negligência do Estado em todas a suas esferas, uma vez que o mesmo permite que
diversas vezes grandes empresários usem a máquina pública, de modo a promover
processos de apagamentos sociais e degradação ambiental, por meio do que
conhecemos como metamorfoses espaciais, que se utilizam de sistemas de objetos
a fim de atender apenas a um modelo, o agroexportador.
Tem-se então a necessidade de que o
Estado cumpra o seu contrato social perante nossa sociedade democrática, em que
todos e todas devem ter acesso às políticas públicas de forma equitativa. E,
portanto, é dever desse mesmo Estado eliminar a desigualdade social e promover
a valorização das diversas culturas e modos de vidas, assim como os direitos
territoriais, promovendo assim a segurança jurídica desses territórios.
Em função disso, o Estado torna-se
culpado por perpetuar processos de apagamento sociais, prioriza um modelo
econômico que expropria, mata o povo do campo, da cidade e da floresta”. Assim foi
a sentença final anunciada pela presidente da mesa, a ouvidora externa da
Defensoria, Sra. Amanda Michalski
em um ato simbólico ecoando os gritos de que “Águas para a Vida e não para a
Morte”, bem como “Amazônia Viva para Sempre”.
Um documento intitulado Carta de Compromisso foi elaborado pelos organizadores do 1º Tribunal, destacando os cenários da seca e da inundação em curso, apontando os causadores e suas consequências na vida das populações nesta região de fronteira, bem como os caminhos a serem trilhados pelas organizações sociais diante deste cenário de destruição e morte para promover a Vida integral nesta Casa Comum.
CARTA
PÚBLICA DE COMPROMISSO
1º TRIBUNAL POPULAR PELAS ÁGUAS E PELO CLIMA
“ECOAR DE VOZES EM DEFESA DA CASA COMUM - RUMO A COP30”
Reunidos e reunidas em
Guajará Mirim/RO, no auditório do Ministério Público Estadual, sob a
mobilização do Comitê de Defesa da Vida Amazônica na bacia do rio Madeira,
núcleo Rondônia do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, do
Brasil e da Bolívia, nós representantes de povos indígenas, ribeirinhos,
pescadores, extrativistas, pescadores, atingidos e atingidas por barragens, povos
de terreiros, agricultura familiar, militantes sociais do campo, das cidades,
das florestas e das águas, pesquisador@s, educador@s, representantes de órgãos
de Justiça, da Imprensa, da Solidariedade, da Academia e agentes de políticas
públicas governamentais, nos reunimos para analisar
nossa realidade, refletir à partir
dos casos aqui relatados e tomar encaminhamentos
frente a atual situação de graves emergências climáticas nesta zona de
fronteira entre Brasil e Bolívia, num Ecoar de Vozes e Gritos por Justiça
Climática, por Justiça Socioambiental!
Somos sabedor@s que as
mudanças climáticas têm afetado a bacia do rio Madeira com secas, inundações,
alterações na precipitação e na qualidade da água. Populações ribeirinhas,
comunidades tradicionais, comunárias e indígenas foram e serão as mais
afetadas, pois dependem dos rios, ficando isoladas, sem acesso a combustível,
alimentos, emergências de saúde ou acesso a água potável. Outro agravante está
relacionado ao direito de ir e vir, enfrentando obstáculos para sair e voltar
às suas comunidades, atingindo sua subsistência e economias, pois dependem dos
recursos naturais da região duramente afetados com a intensa estiagem nos dois
últimos anos.
Temos conhecimento que
entre os rios afetados com a seca no ano de 2024 nessa região estão: Candeias,
Guaporé, Jamari, Mamoré, Machado, Madeira, Pacaás e Pirarara, assim como o
Beni, Arenas, Yata e Mamoré em território boliviano. Contudo, agora em março de
2025 ambos estão transbordando num prenuncio de uma nova inundação a exemplo de
2014. Estes rios não só sustentam a biodiversidade local, mas também são vitais
para as atividades econômicas da região, incluindo a agricultura, pecuária e a
hidroeletricidade.
Entretanto, nos
perguntamos: que ações estão provocando todas essas mudanças? Quem está por
traz dessas ações lucrando financeiramente? Quais são as consequências na vida
dos seres, que compõe o que chamamos de Natureza e das pessoas das cidades, das
florestas, das águas e do campo, ambas partes da integralidade da Vida na Casa
Comum?
Por isso, neste
primeiro Tribunal Popular Pelas Águas e Pelo Clima, pretendemos dar
continuidade a um processo popular de análise crítica em torno destes temas na
bacia do rio Madeira, para Ecoar Vozes e Somar esforços com lideranças
políticas e planejadores governamentais na construção de caminhos de Envolvimento Integral em benefício de
nossos povos e populações, em detrimento de projetos de exclusão, procurando
incidir nas instâncias de planejamento e tomadas de decisões.
Reafirmamos nosso
compromisso sócio, político e ético em fazer chegar as instâncias devidas as
denúncias aqui apresentadas e que colocam em cheque acordos do governo
brasileiro com a comunidade internacional, sem levar em conta a presença
etno-histórica de nossos povos.
Denunciamos o modelo
agroexportador empresarial-governamental, que mata a mata, que desmata, que
envenena a terra, água e o ar, que pensa projetos de infraestrutura (hidroelétricas,
ponte binacional, hidrovia e rodovias) sem qualquer participação popular, sem
consulta prévia, sem levar em conta nossas necessidades básicas e nossos
projetos de Vida. Reafirmamos nosso compromisso binacional de dizer: Não as
Hidroelétricas na Amazônia, Sim a Vida!
Denunciamos o
extrativismo predatório em nossa região, que afeta nossos rios, seja pela
pesca, pelos garimpos, pelo saque de nossas florestas, violando os direitos da
natureza, de nossos povos e nossas espiritualidades.
Anunciamos que nossos
povos e comunidades, do campo, da floresta, das águas e das cidades são Sujeitos
de Direitos, Guardiães e Guardiões desta Casa Comum e assim seguiremos em
Defesa da Vida na Bacia do Rio Madeira e da Amazonía, rumo a COP30 e demais
instâncias internacionais que forem necessárias.
SIM A VIDA! NÃO AOS
PROJETOS DE MORTE.
ÁGUAS PARA A VIDA E NÃO
PARA A MORTE.
ÁGUAS PARA A VIDA E NÃO
PARA NEGÓCIOS.
Guajará Mirim, 21 de
março de 2025.
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